Rui Maria Pêgo desabafa em entrevista: “Coisas que não me foram dadas por eu ser gay”, afirmou em entrevista a Maria Botelho Moniz no programa “Goucha”.
O filho de Júlia Pinheiro admitiu que: “Hoje em dia, há coisas que se dizem que limitam a tua expressão de alguma maneira e acho que também tive de combater esse conservadorismo que não sabíamos o que era. Era só a maneira como se educavam as crianças nos anos 90 e agora é diferente (…) Acho que sempre pude ser o que queria ser em casa, na escola, talvez não”, referiu.
O jovem confessa que esconder a sua orientação sexual é como viver nas trevas: “Não há nada pior, porque isso faz com que tu fiques paranoico, paranoica ou ‘paranoique’ com tudo aquilo que fazes, com os teus gestos… e eu, sendo homossexual e estando numa escola conservadora e num meio conservador, ser alguma coisa diferente da norma torna-te objeto de algum tipo de atenção extra”.
“Embora eu seja espampanante numa série de coisas, às vezes, não queres essa atenção toda e não queres que as pessoas te persigam, te batam e que te façam mal”.
E continuou: “Viver com um segredo é tu medires o que fazes e medires o que fazes é não seres livre, numa altura em que tens é de ser livre e tens de experimentar, explorar… esse filtro é, depois, uma coisa que tu demoras a vida inteira para tirar. Acho que somos os maiores opressores de nós mesmos e, portanto, fingir que isso não é verdade é estar a pôr as culpas nos outros e na sociedade”.
Sem pruridos o radialista fala ainda da forma como a sociedade encara tudo isso: “Tens aquelas coisas clássicas… eu achava que só me apaixonava por mulher, mas, sexualmente, sentia-me atraído por homens”. “As coisas que nós inventamos para sobreviver… mas tudo isso são táticas de sobrevivência que, de alguma forma, servem um tempo, mas que não pode formar tudo aquilo que tu és e para onde tu vais. Depois, tens de te desfazer disso”.
“A sociedade está ordenada de uma maneira heteronormativa e, durante muito tempo, o facto de dizer em televisão que tinha um namorado era impensável. Foi-me dito, não sei quantas vezes, que a minha carreira acabava por eu ter dito que era gay, Houve coisas que não me foram dadas por eu ser gay e houve outras que também me foram dadas talvez por isso”, desabafou.
“Há zonas subterrâneas nos canais e também tem a ver com os tempos. Se calhar, em 2008/2009, isso era uma coisa muito mais pesada do que em 2023. Não houve nada ostensivo, mas a minha contratação para um canal, até há quatro ou cinco anos, não era pacífica, porque isso implicava ‘Ok, ele é esta pessoa, ele significa isto. O facto de eu ser homossexual faz parte de quem eu sou”, confessou Rui Maria Pêgo.